opinião

Uma experiência de dor, uma experiência de amor



Todos sentimos o peso da intolerância, da soberba, da incompreensão, da falta de amor ao próximo. De todos os lados. Todos temos meias verdades, ninguém tem a verdade completa. Não somos perfeitos, se fôssemos, não estaríamos aqui, pode ter certeza. Os conselhos de Jesus, tão simples, se fossem seguidos não precisaríamos de leis: amar ao próximo, mesmo que este próximo pense diferente de mim. Não fazer ao outro o que não quero para mim.

Nesta Semana Santa, gostaria de dividir as impressões de um texto com vocês. Vem do escritor, formado em língua grega e hebraica, especialista em aramaico e francês, e juiz de direito mineiro Haroldo Dutra Dias. Estamos nos aproximando de uma grande celebração, cujas raízes repousam no judaísmo, que foram absorvidas pelo mundo cristão e depois, de certo modo, deturpadas e transformadas no que é hoje, uma festa de coelhinhos e ovinhos que quase não guarda nenhuma relação com o que realmente significa.

Páscoa tem a ver com religiosidade e, neste universo, lidamos com símbolos, metáforas. Isso porque religiosidade tem a ver com sentimento, com a experiência pessoal que cada um faz de Deus. Como experimenta a Deus, a vida e como experimenta a vida diante de Deus.

Não tem como traduzir uma experiência tão rica com a linguagem da ciência, da filosofia. A religiosidade usa da metáfora, que é uma linguagem onírica, dos sonhos.

A Páscoa tem sua origem com o povo judeu, que estava escravo há 400 anos no Egito, e este foi invadido pelo anjo da morte. Porém, nas casas em que houvesse na porta a marca do sangue do cordeiro, o anjo pularia. O verbo "pular" em hebraico é Pessach, daí vem Páscoa. Significa o pulo que o anjo dá nas casas em que têm a marca do cordeiro e que, portanto, foram poupadas de perder seu filho mais velho. Essa é a simbologia. Na celebração da Páscoa judaica, o cordeiro ficava uma semana com a família. Neste período, a família criava uma relação de afeto com o bichinho. No entardecer da sexta-feira, a família se reunia e o cordeiro era sacrificado. E tinha que ser assim, porque se alimentar do cordeiro da Páscoa tinha que ser uma experiência de dor. A Páscoa tem a ver com esta experiência, com este sentimento de libertação espiritual.

Com a vinda de Jesus, o que ele faz? Convive por três anos com seus discípulos. Cura cegos, cura paralíticos. Janta todo dia na casa de Simão Pedro. Trabalha com eles, os acompanha nas pescarias, convive com eles, vive as dores e as imperfeições de cada um. E no momento final dos três anos, reúne todos e diz: vocês vão me perder. Vou deixar esta vida e retornar à casa do Pai. E vocês vão experimentar uma tremenda tristeza, uma profunda dor, porque vocês criaram uma conexão emocional comigo. Os chamo de amigos, porque tudo o que aprendi, compartilhei com vocês. Eu amei e amo vocês da maneira maior que eu poderia amar. Amei tanto que você, Pedro, vai me negar e eu vou continuar te amando, nada vai alterar o meu amor por você. Eu amo tanto você, Judas, que mesmo sabendo que vais me trair, eu te perdoo. Eu irei embora e vocês vão viver a maior experiência de solidão e de ascensão espiritual das suas vidas. O que eu posso prometer é que nunca vou desampará-los, estarei junto com vocês, porque a vida não cessa. E toda vez que vocês se sentirem solitários, sentirem falta da minha presença, vocês vão se reunir e celebrar a Páscoa em memória de mim, e mais importante, em memória da libertação de que eu sou mensageiro.

A mensagem de Jesus Cristo é libertadora porque traz um amor incondicional, um amor que ama independente de. Portanto, é um amor que liberta. E ele dizia: "reúnam-se, celebrem a Páscoa para celebrar o amor, para celebrar a imortalidade da alma". Hoje, séculos depois, transformamos toda esta simbologia e expressão do amor em coelhinhos e ovinhos de chocolate e quase que esquecemos a dimensão espiritual e a experiência religiosa que a Páscoa propõe, de amar e se sentir amado. A Páscoa significa uma passagem. Uma experiência que vivemos constantemente. Pelas passagens da nossa vida, crescemos, evoluímos, conquistamos a liberdade interior. Porque só quem é livre tem condições de renunciar aquilo que o destrói. As almas são como velas, acendem-se umas às outras. Precisamos uns dos outros.

Das datas importantes que temos na vida, como dizia Fernando Pessoa, duas se destacam, a de nascimento e a de morte, entre uma e outra tudo que fizermos para crescer, evoluir como ser humano, porque voltaremos da mesma forma que chegamos, sem carregar nada. Nada? Não, precisamos voltar melhor do que chegamos e isso significa passar pelas experiências da "Páscoa", do amor ao próximo, da solidariedade, da fraternidade.

Que tenham uma abençoada Páscoa! Todos os dias.

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